É inevitável acreditar que aquilo que cremos ser o nosso valor, enquanto pessoas e profissionais, condiciona a nossa perceção sobre nós próprios e a forma nos vemos, definimos e, logo, como agimos, o que se reflete nas escolhas sobre a nossa carreira e percurso profissional. O nosso valor próprio poderia ser definido como uma profunda convicção do nosso valor enquanto pessoa, independentemente das nossas conquistas ou resultados.
A nossa noção de valor próprio interliga-se com um outro conceito: o de merecimento. Aquilo que acreditamos ser e o valor faz-nos acreditar se somos ou não merecedores de determinada posição de liderança, projeto, promoção… ou então faz nos crer que tudo foi uma questão de “sorte” ou obra do destino. Na carreira, a associação entre a nossa perceção de valor e o merecimento tem consequências ainda mais vincadas.
Quantas não são as pessoas que avaliam o seu valor ou contributo dentro das organizações em função das reações com chefias ou dos colegas (ou seja, fatores externos)? Isto coloca em causa a sua competência quando a cultura organizacional da empresa não reconhece formalmente o seu valor e contributo, sentenciando o seu trabalho como insuficiente cada vez que isto acontece. Nestas situações, avaliamo-nos exclusivamente tendo em conta as circunstâncias externas (que vemos muitas vezes de forma distorcida ou circunstancial). Outras vezes, devemos ter em conta que não somos nós que estamos mal, mas sim a própria cultura organizacional da empresa onde estamos inseridos, que por falhas ou necessidades de melhoria, não nos concede o devido mérito, abalando assim as nossas estruturas emocionais, valor e auto-estima.
Assim, impõe-se questionar como é que a falta de valor próprio influencia a nossa carreira, e aquilo que poderia ser a sua progressão ou alcance de objectivos mais ambiciosos, rumo à sua melhor versão. Algumas das consequências desta perceção interna de baixo valor próprio são:
· Ansiedade
· Procrastinação
· Tendência à sobrecarga
· Necessidade constante de validação
· Perfeccionismo
· Incapacidade de pedir ajuda ou partilhar a sua opinião.
Ao precisarmos de provar o nosso ‘valor’ a todo o custo, a toda a hora, estamos, na verdade, a acusar uma grande falta de Valor Próprio. Este género de situação está igualmente relacionado com a Síndrome do impostor, a qual está muito interligada com a perceção de baixo valor de cada indivíduo. O perigo, quando tentamos balizar o nosso valor próprio em fatores externos, é que ficamos dependentes da opinião e da vontade dos outros, da sua aprovação e valorização. Começamos por tentar agradar à nossa família, para depois tentarmos procurar um emprego que nos confira status e dinheiro, e por fim, abdicamos da nossa felicidade para mostrar aos outros que somos capazes. Tudo em prol do conforto dos outros.
As nossas escolhas e preferências passam para segundo plano, e o que deveria ser um exercício de afirmação pessoal, deixa de o ser para não afetar o conforto e a satisfação dos outros. Entre a satisfação dos outros e a nossa afirmação pessoal, a escolha devia ser óbvia, mas não é. Daqui a termos feito inúmeras escolhas na nossa carreira, e logo, na nossa vida pessoal, que modifiquem incontornavelmente o nosso rumo de vida, vai apenas um pequeno passo, que se pode tornar irreversível.
De quantos sonhos já abdicou em prol dos outros? Quantos objetivos criou baseados em crenças erradas sobre si próprio? Quantas vezes fez alguma coisa só para provar aos outros que era capaz, quando esses atos não tinham assim tanto significado para si? Perdemos demasiado tempo da nossa vida a tentar encaixar-nos nas expectativas de algo ou de alguém, apagando-nos ou até anulando-nos. Não é preciso criar um império ou fundar uma empresa unicórnio para sermos realizados. São as pequenas coisas suportadas nas nossas forças que nos dão um sentido de significado.
Todos temos forças. E, por isso, todos temos um contributo a dar. As nossas forças são aqueles aspectos que somos capazes de fazer naturalmente, com êxito, e que, quando pomos em prática, sentimos uma espécie de energização e entusiasmo. Se não souber identificar as suas forças, fique atento aos motivos pelos quais os outros o procuram. Ou peça feedback a pessoas próximas e em quem confie. Se nada disto resultar, procure realizar uma “avaliação” para se autoconhecer, ter maior clareza sobre si próprio, os seus pontos fortes e pontos a desenvolver, e os próximos passos a dar na sua carreira.
Depois de descobertos os seus pontos fortes, o mais importante é perceber como os poderá usar. Colocar-se em ação. Ser útil. E focar-se nessa contribuição, em vez de estar sempre a avaliar-se, a comparar-se e a pensar no que os outros estão a pensar. Provavelmente estão a pensar neles próprios, e não em si! Quando nos focamos no nosso contributo, esse é por si só um exercício de afirmação e de Valor Próprio. Foque-se no que realmente precisa, respeitando o seu verdadeiro talento natural, em vez de tentar agradar aos outros de forma insistente e sem retorno para si.
Abandone o paradigma de ter de provar algo aos outros para lhes agradar, para abraçar um novo paradigma: o de afirmar-se! Quando isso acontecer perceberá uma clara mudança de paradigma na sua carreira, acreditando em si e em tudo o que tem para contribuir e dar a si e à sua organização.