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Pode-se escolher uma profissão de que se gosta mas sem futuro?

“Mas o que é que tem futuro, hoje em dia? Isso é tão relativo…”, nota Eliana Vilaça, psicóloga especialista em avaliação psicológica e orientação vocacional da Clínica Ktree. “A minha convicção é que devemos escolher aquilo de que gostamos, porque somos melhores quando fazemos algo que nos apaixona. Mas não me compete a mim tomar decisões. A minha responsabilidade é pô-los a pensar: ‘se queres uma área com poucas saídas, quais são as tuas estratégias? Que alternativas tens?’ O meu objetivo é conseguir que eles escolham qualquer coisa de que gostam sem perder de vista o lado realista. Mas se ele quer mesmo, sei lá, História, provavelmente vai ser muito bom nisso. Obviamente, se é alguém com baixo rendimento, pouco persistente, e quer um curso com poucas saídas, talvez seja mais prudente colocar outras hipóteses. Mas se é um miúdo com  garra, maduro, apoio mais facilmente.”

Como se faz uma avaliação vocacional?

“Aqui, na clínica, fazemos uma entrevista com os jovens e os pais, onde exploramos interesses, projetos, expectativas, circunstâncias daquele jovem. Depois são feitas as provas, e em seguida discutimos com eles os resultados, avaliamos hipóteses, facultamos informação sobre os cursos. O nosso cavalo de batalha é alterar a forma como os jovens se posicionam na avaliação: se lhes passarmos meia dúzia de questionários e no fim fazemos um relatório, é normal que eles sintam que aquilo não é bem deles. O nosso trabalho é envolver os jovens e a família na interpretação daquela informação.”

E se ele quer ser vulcanólogo?

“Em primeiro lugar, há que avaliar o que eles sabem acerca da profissão, porque muitas vezes eles chegam com uma ideia muito vaga, ou mesmo errada, e ao fim de umas pesquisas percebem que não é aquilo que querem”, explica Eliana Vilaça. “Fazemos os testes, e depois peço-lhes alguns trabalhos de casa, por exemplo, para me fazerem um texto em que me descrevem a profissão. E depois logo vemos.”

E quando eles têm uma ideia muito vaga das profissões?

“Essa é uma das dificuldades. Ou aparecem com uma ideia muito vaga daquilo que querem ou não conhecem o mundo das profissões. Nós, enquanto examinadores, temos de ter uma noção das opções à disposição deles, mas também há muita coisa que não conhecemos, por isso investigamos com eles. Vamos construindo hipóteses com o trabalho de pesquisa e de informação.”

Há escolhas feitas só para chatear os pais…

“Pode haver. As escolhas são feitas ainda com uma personalidade adolescente, e é comum querer contrariar a vontade paterna, principalmente se esta for vincada. Não nos devemos definir em oposição. Às vezes, os pais têm ideias que nada têm a ver com os filhos. Ou a sua até seria uma profissão que os filhos escolheriam, mas por necessidade de contradição, vão contra.”

E se não gostam de nada?

“Esses podem ser os casos mais difíceis, e muitas vezes temos de adiar a tomada de decisão porque ele não está preparado para decidir naquele momento”, nota Eliana Vilaça. “Se eles têm mesmo de decidir, escolhemos consoante os testes e os resultados do seu tipo de inteligência. Mas, às vezes, os jovens que não gostam de nada podem estar com dificuldades mais profundas do foro emocional, porque é de suspeitar quando um jovem não se interessa por nada.” Como é que se escolhe quando se está deprimido? “Mal. Há adolescentes que não estão em condições de fazer escolhas naquele momento. É como se estivessem dentro de uma nuvem… Imagine que chega aqui um miúdo altamente deprimido e desistente. Se ele não estivesse deprimido, provavelmente ia fazer escolhas completamente diferentes das que fará nessas circunstâncias. Portanto, idealmente dever-se-ia tratar a depressão antes de realizar a avaliação, mas nem sempre temos esse tempo, precisamos por isso de distinguir o que é estrutural do que é uma patologia já existente.”

E quem gosta de muita coisa e não consegue decidir?

“Sim, por vezes existe a angústia de escolher uma profissão e deixar outras para trás. Escolher significa abdicar, e muitas vezes é uma escolha com muita responsabilidade e poucas garantias, sentida como um tiro no escuro. Mesmo que depois mudem, essa mudança é vivida com frustração, fica a ideia do insucesso, do tempo que se perdeu, da comparação com os outros jovens que acertaram à primeira.”

Os pais comparam muito os miúdos com outros?

“Comparam. Mas também há pais que, na preocupação de respeitar os filhos, os deixam desamparados. Quando dizem ‘a vida é tua, escolhe tu’, os filhos ficam sem saber para onde se virar. Porque muitas vezes eles precisam de ajuda. Por outro lado, escolher por eles obviamente não é opção. O ideal é apoiar. Porque não há ninguém melhor para ajudar um filho do que os pais, que o conhecem desde sempre.”

E quando querem ser atores ou cantores?

“ Obviamente, eu não tenho capacidade para avaliar se um jovem é bom ator”, nota Eliana Vilaça. “Posso dizer se a personalidade dele se adequa – se é extrovertido, comunicativo, criativo – se está motivado acerca da profissão.  Quando alguém me diz que quer ser cantor, não vou pô-lo a cantar para mim… Tenho de perceber se ele já teve algum feedback na área. Se não teve, deve procurar. E se não consegue, é uma decisão mais arriscada. Por isso o que eu lhes peço é que adquiram contacto prático com a área. Há profissões em que eles seriam bons mas a escola não abarca. Avaliei aqui um rapaz que estava a estudar economia. Depois fez testes e percebeu que era dotado para as artes. Acabou no curso de cozinha!”

Muitos nem se lembram de que há milhares de hipóteses que não a via académica…

“Muitos pais também não aceitam isso, o que tem a ver com o facto de, tradicionalmente, os cursos técnicos serem vistos como os cursos dos maus alunos. Mas são uma boa saída para os jovens com um tipo de inteligência e aptidões mais práticas ou para os que querem uma área não lecionada nos cursos regulares.”

Uma vocação é sempre aparente?

“Não. Pode ser descoberta. Pode ter uma vocação sem estar consciente dela? Pode. Mas provavelmente já lá andou à volta a experimentar. Esta ideia das vocações deixa as pessoas muito angustiadas. E se não é bem isto? E se há qualquer coisa em que eu sou boa e não estou a ver? Pensamos que a vocação é qualquer coisa que vou fazer extraordinariamente bem e que me vai deixar realizada. Achamos que é como uma paixão, uma coisa externa que cai em nós de repente com a força de uma revelação. Mas nem sempre é assim. Mesmo numa profissão há muitas variantes: um engenheiro civil pode estar a trabalhar em gabinete ou na obra… Uma vocação não tem de ser óbvia, pode ser uma inclinação… E tem de ser trabalhada.”

Há quem tenha vocação para contabilista?

“Então não há? Aquelas pessoas com personalidades muito meticulosas, certinhas, organizadas, que gostam de ter tudo controlado… Economia requer mais abstração e uma personalidade mais analítica, um economista trabalha com variáveis sempre a mudar. A matemática requer abstração, lógica, mas também método. Portanto, gostam os três de números, mas são motivações, aptidões e personalidades bem diferentes.”

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