Brincar na areia, desenhar árvores azuis, ser uma fada ou um aviador... O mundo de hoje ainda tem lugar para as fantasias infantis, é preciso é não stressar...
Tempo para ir à escola, tempo para a natação, tempo para o inglês, tempo para os computadores… Mas será que ele tem tempo para sonhar?
A importância de mexer na terra Ele suja-se? Mas ser criança é ser sujo, por definição. Não queira que a sua criança tenha uma infância demasiado ‘limpinha’. Vista-a com roupa velha que possa ir à máquina quarenta vezes, leve-o ao parque e deixe-o meter as mãos na terra.
Por estranho que nos pareça, uma criança pequena a brincar utiliza muitas das mesmas estratégias dos investigadores profissionais: como é que isto funciona? E desta maneira, o que é que muda? Para isto é preciso tempo, é preciso calma, é preciso lugar onde, e é preciso não ter tantos brinquedos que não saiba para onde se virar. É com as mãos que as crianças investigam. As bonecas, os jogos de construção, os puzzles, os jogos, são clássicos com que nós brincámos. As crianças de agora estão mais voltadas para os jogos electrónicos, que lhes serão imprescindíveis no futuro, mas que tipo de adultos teremos, se não foram ‘cientistas’ em pequenos?
A árvore azul No papel, ele desenhou uma enorme árvore com uma lindíssima copa… azul. Árvores azuis não existem nem na China? Talvez, mas imagine que a mãe do Van Gogh lhe tinha dito isso. Em vez de começar logo a pensar: “Meu Deus, todos os outros meninos fizeram árvores normalmente verdes e só este é que não sabe que elas são verdes, se ele já chumba no curriculum da pré-primária, nunca me vai chegar à faculdade!”, dê os parabéns a si própria: não só tem um filho poético como original e despachado (provavelmente a caneta verde não estava disponível na altura e ele desenhou com a que estava à mão), tudo qualidades preciosas para vingar na vida.
Em vez de lhe ralhar e de lhe exigir que eles seja igualzinho a todos os outros, incentive os seus dons: ofereça-lhe lápis de cor e puzzles, leve-o ao cinema e a ver exposições de museus (provavelmente ele adorará Matisse), chame a atenção para as cores e tons daquilo que está à sua volta, façam colagens juntos, apanhem folhas para fazer um herbário. E guarde o desenho da árvore azul, vai gostar de o rever quando ele for um pintor ou um inventor famoso.
A mania das princesas
Ai a fase da Barbie, e do quarteto Branca-de-Neve/Bela/Cinderela/Bela Adormecida… A fase kitsch… Muitas vezes, elas acumulam a fase das ‘bonecas para vestir’ com a das bonecas para dar colo. Claro que se pode controlar: elas não precisam de ter trinta Barbies, podem ter os fatos em vez da boneca, e podem mesmo aprender a fazê-los, com uma caixinha de costura, tesoura e bocados de pano. Incite ainda a personalizar cada boneca, a saber que aquela é a Rita ou a Marta ou a Filipa, em vez de ser só ‘mais uma’…
Não são coisas de rapaz?
Imagine que a sua criança lhe diz: ‘Olá, eu sou uma fada’, com a diferença que a sua criança é um robusto rapaz… Aos três anos, ainda não há muita noção das diferenças de sexo, e quem tem irmãs pode facilmente entrar em brincadeiras ‘de meninas’. Há mesmo quem conte a história de um imaginativo teimoso que batia o pé numa brincadeira porque o único papel que desejava era o de ‘Rainha-má’… O facto de ele se identificar com a personagem ‘má’ seria mais de reflectir do que o facto de querer ser ‘a rainha’… Portanto, não faça comentários e deixe-o ser fada à vontade. Lembre-se que, quando ele quiser ser polícia, a família vai arrepender-se, principalmente se o ‘polícia’ tiver apito…
Pum-pum, estás morto
Muitas famílias têm a louvável política pacifista de não comprar armas de brincar às suas crianças, mas as crianças insistem em espetar um dedo (ou uma banana, ou uma escova, ou um secador…) e fazer pum-pum…. Pois é. A agressividade está em todos nós e neste nosso mundo em que elas passam cada vez mais tempo sentadas, é importante encontrar brincadeiras onde possam libertar energia. Pode continuar a não lhe comprar kalashnikovs em miniatura e a incutir-lhe uma saudável política de ‘paz e amor’, mas deixe-o brincar às guerras. E entretanto, vá jogando com ele às escondidas, à cabra-cega, à apanhada, aos monstros, à batalha das almofadas. São jogos dos nossos antepassados, mas continuam tão divertidos como sempre. Só é preciso alguma energia e algum espaço, o que pode ser complicado, é verdade, mas não impossível… Deixe-o gritar e pular, e vai ver que as guerras passam para segundo plano.