O ‘kitsch’
Aquele que oferece um ursinho de peluche, ou daqueles que vêm aos pares com dois coraçõezinhos agarrados, a dizer ‘be my Valentine’ ou os importados do Brasil e devidamente traduzidos por ‘oi fofura’, ou ainda os portugueses, que também os há, a declarar ‘curto-te bué’, ou mesmo ‘O Diário do Nosso Amor’. Estes são os fanáticos pela tralha valentiniana importada dos ‘States’, das canecas aos ursinhos, dos balões aos corações, quanto mais infantilóide melhor. Só é giro depois dos 50, ou então para oferecer ao patrão. Se alguém tiver um patrão a quem possa oferecer um ursinho a dizer “Curto-te bué’, não se despeça nunca.
O senhor dos anéis
Adora mostrar que tem dinheiro e dá sempre coisas muito caras e muito grandes e muito brilhantes. Até se pode arruinar em canetas de ouro e relógios caros. Problema: tanto podia dar aquilo à mulher da vida dele como ao patrão. Aparentemente seria o sonho de qualquer mulher (e qualquer patrão), só que as mulheres, que são seres estranhos, preferem mil vezes um gato de loiça comprado numa Loja dos Trezentos a dizer ‘És a minha bichana’ do que um anel que se vê logo que a secretária dele escolheu. <
O monótono
Há 16 anos decorou que ela gostava do ‘Chanel nº5′ e desde então nunca mais lhe deu outra coisa e ainda não percebeu que, enfim, ela talvez gostasse de variar. Ou descobriu que ela simpatizava com golfinhos e desde 1896 que a desgraçada anda a a agradecer efusivamente canecas de golfinhos, lençóis de golfinhos, canetas com golfinhos, CDs de música de golfinhos, DVDs sobre a vida dos golfinhos e golfinhos de mármore para segurar livros nas estantes.
Os que dão ao lado
Imagine que não gosta, nunca gostou e, se não lhe fizerem nenhum transplante às papilas gustativas, nunca gostará de café. Pois este é o tipo de homem que aparece alegremente com uma máquina, e daquelas com pelo menos 24 peças que é preciso montar e que ocupam mais espaço que o frigorífico. Ou então, coitado, corre quatro centros comerciais a suar em bica e de cartão de crédito em riste à procura de alguma coisa que ela ame, e quando encontra, nunca é aquilo que ela gosta. Há quem possua um verdadeiro talento para dar prendas ‘ao lado’: a gente adora verde, ele dá azul. A gente nem sequer tem furos nas orelhas, ele dá brincos. A gente é alérgica à lã, ele oferece lindíssima camisola que até de olhar pica nos olhos. A gente prefere música clássica ele aparece com os ‘greatest hits’ dos Sex Pistols. A gente passa dois meses a apontar para a mesma montra e a dizer: ‘olha que giro aquele relógio’ e ele oferece-nos um suporte de panos de cozinha. Enfim, salva-se a boa vontade.
O simbólico
Dão só uma coisinha, só uma coisinha como as velhas tias no Natal, com a diferença de que eles não são as velhas tias, só uma coisinha para não me bateres e não entrares em greve de sexo, só uma coisinha para mostrar que não me esqueci QUE SOU UM GRANDE FORRETA. Ainda por cima, geralmente a ‘coisinha’ não tem nada a ver com nada, nem com a namorada, nem com ele, nem com o S. Valentim, nem com o Santo António, nem com corações apaixonados, nada. É assim qualquer coisinha como uma chaveninha de café, ou uma jarrinha, ou um cinzeirinho…Uma coisinha tão pequenina como a alminha dele, tadinho.
O forreta original
Este dá uma de ambientalista e aparece romanticamente com búzios da praia ou com a flor apanhada no canteiro do trabalho dele, ou com um frasquinho cheio de ‘ar de Paris’, ou uma pedrinha do último sítio onde vocês estiveram, e a gente a virá-la de todos os lados na vaga esperança daquilo ter o logotipo da Louis Vuitton em qualquer sítio, e ele em frente a babar-se de emoção, e a pensar, ‘coitada, ficou tão comovida, as mulheres são assim, gostam mesmo é de um presente com significado’ e nós cheias de vontade de dizer ‘vá, agora a prenda a sério!!!’.
O narcisista
Oferece uma moldura com a fotografia dele próprio, ou um álbum com fotografias dele desde pequenino, ou o manuscrito de um livro da sua autoria devidamente encadernado, ou uma moldura dupla daquelas de colar no tablier do carro, com a fotografia dele num lado e do cão dele no outro. Este é do estilo que evolui para oferecer fotos dos filhos às avós no dia de anos das avós, e nas fotos nem sequer lá constam as senhoras, só mesmo as trombas das crianças todas sujas de chocolate num dia em que se divertiram imenso… com os pais.
O que oferece coisas… para ele
Acha genuinamente que nós toda a nossa vida salivámos por um bilhete para a Final da Taça, uma t-shirt a dizer ‘Cristiano Ronaldo’ nas costas e cartão de sócia do Benfica, ou um berbequim com uma broca especial que fura mais fundo (isto não é uma indirecta), ou aquelas botas com furos na sola para escalar os Himalaias, onde ele sempre quis ir enquanto a gente lhe punha folhetos de Porto-Galinhas e de Veneza Romântica debaixo dos olhos. E se ele lhe oferecer algumas aulas no ginásio com um ‘personal trainer’ para dois, também não é uma indireta a insinuar que temos barriga a mais, é mesmo um genuíno presente do coração a achar que a gente adoraria passar três tardes por semana a treinar para a corrida de S. Silvestre enquanto ele sua garrafões de cinco litros com aquela t-shirt a dizer ‘Jesus Ama-te’ e um tipo de sorriso de orelha a orelha grita ‘vamos lá, Belicha, só mais dez, só mais dez!’ e a gente a amaldiçoá-los aos dois, ao do ‘só mais dez’ e ao outro, que requisitou os seus serviços.
O preguiçoso
Também conhecido como ‘o das flores e dos bombons’. A falta de imaginação é fatal em qualquer romance. À primeira vista não parece dos piores defeitos, mas revela que ele não esteve para fazer o mínimo esforço para descobrir aquilo que a gente queria. Claro que é melhor que nada, é melhor do que dizer que não pactua com o imperialismo americano e a ditadura do consumismo, mas mesmo assim sabe sempre a pouco, flores e bombons deviam eles trazer-nos todos os dias. Além disso, como são bens perecíveis, parece sempre que eles não querem comprometer-se, e então, em vez de um anel, ou de um, sei lá, CD, urso de peluche, qualquer coisa sólida e que se possa mostrar aos amigos, oferecem qualquer coisa que dois dias depois já não existe. Espertos.
O solidário
Em vez do nosso perfume preferido, ou mesmo do perfume preferido dele, em vez de um cd, de um livro, de um ramo de rosas, passa-nos para a mão o recibo do cheque ‘foi feito um depósito em seu nome para a Ajuda de Berço’, ou ‘parabéns! Você ofereceu cinco galinhas a uma família de Cabo Verde’ ou a assinatura da ‘Vida Cristã’, ou um donativo em prol da preservação da Águia Real na Cordilheira dos Andes, ou dos Lobos Selvagens na Península Ibérica, ou do porco-espinho no deserto de Gobi ou para a sociedade contra a lapidação da mulher nigeriana. Enfim, ninguém tem lata de lhe dar com o cheque na careca e dizer ‘traz-me mas é um presente só para mim’ e correr o risco de ficar com fama de egoista sem coração, portanto a gente sorri e agradece. Pelo menos, ele é uma pessoa encantadora e cai bem preocupar-se tanto com a Humanidade, embora a Humanidade nem sempre nos inclua a nós…