"Tenho duas famílias, a minha e esta", afirma Sandra Anastácio, 33 anos, fundadora e coordenadora geral da Ajuda de Berço. A associação acolhe bebés em situação de risco ou abandono, e está vocacionada para as crianças entre os 0 e os 3 anos. "Viver numa instituição é terrível, e embora elas saibam que esta não é a sua casa, queremos que isto se pareça o menos possível com a ideia tradicional de orfanato." Afirma, rindo, que não são admitidos maus humores. E teria razões para estar mal-humorada: as lutas com falta de dinheiro são constantes, e estes bebés chegam quase todos numa situação muito frágil – doentes, maltratados, sem carinho, sem apoio. Mas Sandra tem feito de tudo para cumprir o objectivo principal da Ajuda de Berço: dar um colo aos bebés que não o têm.
Esta não foi a sua primeira experiência em acções de solidariedade. Depois de começar como voluntária na Casa de Santo António para mães adolescentes, criou a Ajuda de Mãe, que se dedica à prevenção, informação e acolhimento de grávidas em situação de crise.
Mas o drama dos bebés abandonados nos hospitais sem terem para onde ir levou-a a criar uma casa de acolhimento para as crianças mais pequeninas. Até hoje já foram acolhidas 80 crianças. Sandra tem pena das muitas que a Associação não consegue acolher por falta de meios, e desdobra-se em tentativas para conseguir os meios de que a Associação precisa para sobreviver e ajudar as crianças a sobreviver.
O contacto com os pais biológicos de cada criança é incentivado, e a maioria volta para as famílias biológicas. As que foram mesmo abandonadas, entram em regime de adopção. A própria Sandra tem uma irmã adoptada, Joana, de 5 anos.
"Perguntam-me muito se não tenho pena de ver partir as crianças. Não tenho pena nenhuma, fico muito contente. Estamos aqui para isso, é essa a nossa função."