Podemos saber o básico, que a dor no peito é sinal de ataque cardíaco, que não fumar e não ter peso a mais é benéfico para o coração, mas há ideias-feitas que circulam há anos e não correspondem à verdade, por isso fomos ter com Francisco Fernandes, cardiologista e diretor clínico do Instituto Cardiovascular de Braga, para as desmistificar.
1 ENFARTE? ISSO É COISA DE HOMENS!
“Já não é bem assim. É verdade que os homens começam a ter problemas de coração mais cedo, por volta dos 40 anos, enquanto as mulheres têm uma incidência relativamente baixa de doença cardiovascular até à menopausa, mas depois verifica-se um aumento bastante rápido, triplicando a incidência da doença e aproximando-se dos números dos homens. Isto acontece porque as mulheres começam a ter mais fatores de risco (aumento de peso, diabetes, tensão alta, colesterol) numa idade mais tardia.
Também não podemos esquecer que há quatro décadas a taxa de uso do tabaco era baixa nas mulheres e hoje está ao mesmo nível que a dos homens, o que faz com que o risco também aumente. e depois há os fatores culturais. em alguns estudos verificou-se que o tratamento de um enfarte do miocárdio costuma iniciar-se mais rapidamente nos homens que nas mulheres. Parece que a classe médica tem a ideia de que as mulheres antes da menopausa não têm enfartes e levam mais tempo a chegar a esse diagnóstico, ou seja, demora-se mais tempo a mandar fazer um ECG a uma mulher de 35-40 anos do que a um homem com a mesma idade, com os mesmos sintomas, porque é ‘normal’ o problema ser masculino nessa idade.”
2 SOU MAGRA, NÃO ESTOU EM RISCO!
“A obesidade é apenas um dos fatores de risco. Por isso, pode até ser magra, mas se tiver o colesterol alto, ou diabetes, ou hipertensão, ou fumar, está em risco de ter um enfarte. Pode é não saber que tem esses fatores de risco, mas se fizer os exames normais de rotina vai conhecer o seu estado de saúde geral. Depois, há pessoas magras mas que têm gordura abdominal, que está relacionada com a diabetes, um fator de risco.”
3 TIVE ALGUNS PROBLEMAS NA GRAVIDEZ, MAS ISSO NÃO QUER DIZER NADA
“Vários estudos, em que houve seguimento de grávidas com diabetes gestacional, hipertensão e pré-eclâmpsia, revelaram que mais tarde essas mulheres tiveram maior propensão para ter diabetes, doenças cardiovasculares e hipertensão. As mulheres que tiveram esses problemas na gravidez devem manter uma vigilância mais apertada dos níveis de açúcar no sangue, da tensão arterial, assim como fazer exercício físico e uma alimentação cuidada.”
4 SE NÃO TIVER DOR NO PEITO, NÃO É ENFARTE!
“A sensação de aperto no coração, com irradiação (ou não) para o braço ou costas, é o sintoma clássico, mas há outros a que deve estar atenta: dificuldade em respirar e encher o peito de ar, dor abdominal que pode ser confundida com dores de estômago, dores nas costas (sendo as pessoas muitas vezes encaminhadas erradamente para um ortopedista), depende muito de pessoa para pessoa. E há que lembrar que os diabéticos homens e mulheres não costumam ter sintomas, por isso atenção. E depois há aquelas pessoas que não têm qualquer dor, cerca de 15%-20%. Mas geralmente, quando a pessoa se queixa de uma dor, está com mau ar, pálida, a transpirar, temos de pensar que pode estar a ter uma situação aguda.”
5 PARA PREVENIR DOENÇAS CARDIOVASCULARES BASTA CORTAR NO SAL
“Pode e deve cortar no sal, mas se continuar a comer imensos fritos e açúcares, não previne nada. Como nos distanciámos da dieta mediterrânica, tem-se verificado um aumento de incidência da obesidade, um dos fatores de risco das doenças cardiovasculares, assim como o tabaco e o sedentarismo.”
PASSOS PARA UM SUPERCORAÇÃO
. Coma sete porções de fruta e vegetais todos os dias. Se não é fã dos verdes, peça receitas às suas amigas vegetarianas, consulte as páginas de instagrammers vegetarianas ou livros com essa temática. É apenas uma questão de educar o paladar por isso demora alguns dias a habituar-se aos sabores menos doces ou salgados.
. Deixe de fumar. Fale com o seu médico de família sobre os diversos métodos e escolha o mais adequado para si.
. Controle o stresse. Não leve as preocupações do trabalho para casa, mantenha-se distraída, faça desporto, uma atividade lúdica (worshops criativos), sai com amigos ou com a família (ou sozinha, se preferir).
. Durma 7-8h. Um estudo revela que quem dorme menos de 6 horas tem o dobro da probabilidade de vir a sofrer um AVC ou ataque cardíaco do que quem dorme 8h.
. Faça exercício físico. O ideal será 30-45 minutos de caminhada (acelerada) por dia, 3 vezes por semana. Comece devagar e com paciência e depois aumente um pouco o ritmo e o esforço cada uma ou duas semanas.